sábado, 13 de abril de 2024

DOMINGO III DA PÁSCOA

As leituras de hoje desafiam-nos a sermos testemunhas do Amor de Deus no nosso quotidiano, onde estivermos, vivermos, ou nos deslocarmos. Este desafio é feito numa dupla perspetiva, pois, por um lado, é baseado no testemunho de vida dos que conviveram com Jesus antes da Sua morte, mas também nos que O viram e com Ele estiveram, comeram, falarem e se encontraram depois da Sua Ressurreição. É o Espírito Santo em nós, que nos transforma em testemunhas do Ressuscitado, como fez com os primeiros discípulos. Abramos o nosso coração, de par em par, à ação do Espírito do Senhor e deixemo-nos moldar por Ele.

Na 1ªleitura (At 3, 13-15.17-19) Pedro, que também teve as suas dificuldades no crescimento da fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, ao anunciar Jesus Ressuscitado, analisa o que se passou na crucifixão e morte de Jesus, mas não condena, antes pelo contrário, apela à conversão. Pedro testemunha na sua vida, através de palavras e gestos, que Jesus está vivo, ressuscitado, habita em nós e n’Ele é sempre possível a conversão e o perdão dos pecados. O Amor de Deus ultrapassa sempre o nosso pecado. Deus ama-nos na nossa totalidade! Deixemo-nos amar por Ele.

“Naqueles dias, Pedro disse ao povo: «O Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, o Deus de nossos pais, glorificou o seu Servo Jesus, que vós entregastes e negastes na presença de Pilatos, estando ele resolvido a soltá-l’O. Negastes o Santo e o Justo e pedistes a libertação dum assassino; matastes o autor da vida, mas Deus ressuscitou-O dos mortos, e nós somos testemunhas disso. Agora, irmãos, eu sei que agistes por ignorância, como também os vossos chefes. Foi assim que Deus cumpriu o que de antemão tinha anunciado pela boca de todos os Profetas: que o seu Messias havia de padecer. Portanto, arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados sejam perdoados».” 


Na 2ªleitura  (1 Jo 2, 1-5a)  o testemunho de S.João vai na mesma linha do de S.Pedro, que escutámos na 1ªleitura, pois somos chamados a dar testemunho do Amor de Deus na nossa vida, na certeza de que Deus nos perdoa os nossos pecados e de que ultrapassa em misericórdia, em amor infinito, todas as nossas misérias e limitações. E é desse Amor total, sem limites, que vai para além de tudo o que possamos imaginar, que somos chamados a dar testemunho, na nossa vida, onde quer que estejamos. Como nos amas Senhor! Muito, muito obrigada. Louvemos e demos graças a Deus, pelo Seu Amor por todos e por cada um de nós.

“Meus filhos, escrevo-vos isto, para que não pequeis. Mas se alguém pecar, nós temos Jesus Cristo, o Justo, como advogado junto do Pai. Ele é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos do mundo inteiro. E nós sabemos que O conhecemos, se guardamos os seus mandamentos. Aquele que diz conhecê-l’O e não guarda os seus mandamentos é mentiroso e a verdade não está nele. Mas se alguém guardar a sua palavra, nesse o amor de Deus é perfeito.” 


No Evangelho (Lc 24, 35-48) de hoje misturam-se, em nós, que nos projetamos também naquela sala, sentimentos diferentes: primeiro surpreendemo-nos com a dificuldade dos primeiros discípulos em acreditarem que Jesus estava ali, no meio deles, que tinha ressuscitado; depois, alegramo-nos com todos, quando O reconhecem e se entregam de coração; a seguir, no Espírito Santo, entendemos o que Jesus nos explica; por fim, sentimo-nos impelidos a testemunhar, com a nossa vida, o Amor Infinito de Deus, por cada ser por Ele criado.

"Naquele tempo, os discípulos de Emaús contaram o que tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir do pão. Enquanto diziam isto, Jesus apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Espantados e cheios de medo, julgavam ver um espírito. Disse-lhes Jesus: «Porque estais perturbados e porque se levantam esses pensamentos nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo; tocai-Me e vede: um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como eles, na sua alegria e admiração, não queriam ainda acreditar, perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa para comer?». Deram-Lhe uma posta de peixe assado, que Ele tomou e começou a comer diante deles. Depois disse-lhes: «Foram estas as palavras que vos dirigi, quando ainda estava convosco: ‘Tem de se cumprir tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’». Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras e disse-lhes: «Assim está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia, e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. Vós sois as testemunhas de todas estas coisas»." 

Senhor, envia sobre mim o Teu Santo Espírito, para que dê testemunho do Teu Amor, todos os dias da minha vida.

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Neste terceiro domingo de Páscoa, voltamos a Jerusalém, ao Cenáculo, como que guiados pelos dois discípulos de Emaús, que tinham ouvido com grande emoção as palavras de Jesus ao longo do caminho e depois o reconheceram «ao partir o pão» (Lc 24, 35). Agora, no Cenáculo, Cristo ressuscitado apresenta-se no meio do grupo de discípulos, saudando-os: «A paz esteja convosco!» (v. 36). Mas eles, assustados e perturbados, pensaram que «viam um espírito», assim diz o Evangelho (v. 37). Então Jesus mostra-lhes as feridas do seu corpo e diz: «Vede as minhas mãos e os meus pés – as chagas – sou eu mesmo; palpai-Me e vede» (v. 39). E para os convencer, pede comida e come-a sob os seus olhares atónitos (cf. vv. 41-42).

Há aqui um detalhe nesta descrição. O Evangelho diz que os Apóstolos, «vacilando eles ainda e estando transportados de alegria», não acreditavam. Tal era a alegria que sentiam, que não podiam acreditar que o que viam era verdadeiro. E um segundo detalhe: ficaram estupefactos, surpreendidos; admirados pois o encontro com Deus leva sempre à admiração: vai além do entusiasmo, além da alegria, é outra experiência. E eles rejubilaram, mas um júbilo que os fez pensar: não, isto não pode ser verdade!... É o espanto da presença de Deus. Não vos esqueçais deste estado de espírito, que é tão bom.

Esta página do Evangelho é caraterizada por três verbos muito concretos, que num certo sentido refletem a nossa vida pessoal e comunitária: ver, tocar e comer. Três ações que podem proporcionar a alegria de um verdadeiro encontro com Jesus vivo.

Ver. «Vede as minhas mãos e os meus pés» – diz Jesus. Ver não é apenas olhar, é mais, requer também a intenção, a vontade. É por isso que é um dos verbos do amor. A mãe e o pai veem o filho, os amantes veem-se um ao outro; o bom médico vê o paciente com atenção... Ver é um primeiro passo contra a indiferença, contra a tentação de virar o rosto para o outro lado face às dificuldades e sofrimentos dos outros. Ver. Vejo ou olho para Jesus?

O segundo verbo é palpar. Convidando os discípulos a palpá-lo, a ver que ele não é um fantasma – palpai-me!  –  Jesus indica-lhes, a eles e a nós, que a relação com Ele e com os nossos irmãos não pode permanecer “à distância”, não existe um cristianismo à distância, não existe um cristianismo apenas ao nível do ver. O amor pede que se veja mas também a proximidade, pede contacto, a partilha da vida. O Bom Samaritano não se limitou a olhar para o homem que encontrou meio morto ao longo do caminho: parou, inclinou-se, ligou as suas feridas, tocou-o, carregou-o no seu cavalo e levou-o para a estalagem. O mesmo seja feito com o próprio Jesus: amá-lo significa entrar numa comunhão de vida, uma comunhão com Ele.

E chegamos ao terceiro verbo, comer, que exprime bem a nossa humanidade na sua natural indigência, ou seja, a necessidade de nos alimentarmos para viver. Mas comer, quando o fazemos juntos, em família ou entre amigos, torna-se também uma expressão de amor, uma expressão de comunhão, de festa... Quantas vezes os Evangelhos nos mostram Jesus a viver esta dimensão de convívio! Também como Ressuscitado, com os seus discípulos. Ao ponto que o Banquete eucarístico se tornou o sinal emblemático da comunidade cristã. Comer juntos o Corpo de Cristo: este é o centro da vida cristã.

Irmãos e irmãs, esta página do Evangelho diz-nos que Jesus não é um “fantasma”, mas uma Pessoa viva; que quando Jesus se aproxima de nós enche-nos de alegria, a ponto de não acreditarmos, e deixa-nos estupefactos, com aquele espanto que só a presença de Deus dá, porque Jesus é uma Pessoa viva. Antes de tudo, ser cristão não é uma doutrina ou um ideal moral, é a relação viva com Ele, com o Senhor Ressuscitado: vemo-Lo, palmamo-Lo, alimentamo-nos d’Ele e, transformados pelo seu Amor, vemos, palpamos e alimentamos os outros como irmãos e irmãs. A Virgem Maria nos ajude a viver esta experiência de graça.

Papa Francisco

( Regina Caeli, 18 de abril de 2021)

sábado, 6 de abril de 2024

 DOMINGO II DA PÁSCOA ou da DIVINA MISERICÓRDIA

 

Nas leituras deste segundo Domingo da Páscoa somos desafiados a ser testemunhas do Senhor Ressuscitado nos nossos dias, onde quer que vivamos, nos encontremos, ou trabalhemos. Em todo e qualquer local, tempo, ou situação da nossa vida, Jesus Ressuscitado está connosco e, enraizados n’Ele, somos impulsionados a demonstrar, na nossa vida do dia a dia, o quanto Deus ama todos os homens. É o Amor de Deus, a Sua misericórdia infinita, por todos e por cada ser vivente, que somos chamados a celebrar, com mais intensidade, neste Domingo da Divina Misericórdia.

Na 1ªleitura (Atos 4, 32-35) somos introduzidos na vivência das primeiras comunidades cristãs que, unidas numa só fé, num só coração e numa só alma, agiam conforme os ensinamentos de Jesus, de forma a que todos partilhassem tudo o que tinham e ninguém passasse necessidades. Que o Senhor nos converta, de coração, para, pela Sua Divina Misericórdia, aprendermos a viver em verdadeiro espírito de comunidade, tal como faziam os primeiros cristãos.

“A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.”

Na 2ªleitura (1 Jo 5, 1-6) S. João convida-nos a deixarmo-nos: mergulhar no Amor infinito de Deus; inundar pelo Espírito Santo ;ser transmissores, no quotidiano da vida da “loucura” do Amor de Deus por cada ser por Ele criado; dar testemunho, pela ação do Espírito Santo em nós, de que acreditamos em Jesus Ressuscitado.

“Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.”

No evangelho (Jo 20, 19-31) se por um lado há uma mistura de sentimentos contraditórios que se digladiam no nosso coração, por outro lado há a certeza da ressurreição de Jesus, que nos enche de esperança e de vida. E são aqueles, que vivenciaram estes momentos, que nos transmitem a evidência dos acontecimentos. Contra factos não há argumentos, Jesus está vivo, Ressuscitou, habita-nos por inteiro: Meu Senhor e meu Deus! Aleluia! Aleluia! Aleluia!

“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.” 

 

«Deus de eterna misericórdia, que reanimais a fé do vosso povo na celebração anual das festas pascais, aumentai em nós os dons da vossa graça, para compreendermos melhor as riquezas inesgotáveis do Batismo com que fomos purificados, do Espírito em que fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos».

sábado, 30 de março de 2024

  DOMINGO DE PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

Aleluia! Hoje acordamos nosso coração com a maior das esperanças. Porque Ele está VIVO, Ele está aqui no meio de nós, Ele continua a caminhar no meio dos seus. E por isso, como aos discípulos, o nosso coração arde. Hoje é esse dia, em que o coração se enche desse entusiasmo, desse ardor. Porque compreendemos que na Ressurreição de Jesus é a nossa vida que se amplia, é a nossa vida que se ilumina, é a nossa vida que ganha uma outra forma. Ela passa a ser mais de Deus, ela passa a ser o triunfo de Deus.

Uma das antífonas mais repetidas nesta época de Páscoa nos serve como um poderoso contraforte para a fé. É esta: ‘Resurrexit sicut dixit’. Jesus ressuscitou como havia prometido. Também é bom pensar na variação que um copista medieval introduziu, talvez por engano, talvez devido a um esforço de aprofundamento teológico. Deus realmente escreve certo em nossas pobres linhas tortas. Um amanuense escreveu: ‘Resurrexit sicut dilexit’. Ele ressuscitou como amou. Ele ressuscitou não apenas como havia predito a seus discípulos, mas de acordo com a constante qualidade de seu amor. Para aquele Filho “obediente até a morte e a morte da cruz”, Deus permanece fiel com todo o seu amor. E amar é dizer ao outro: você não morrerá. Esta é a garantia de Deus, seu gesto definitivo que recria a história.

Queridos irmãs e irmãos, Aleluia. Como dirá o autor da Carta aos Colossenses: “Nós morremos, e a nossa vida está escondida com Cristo em Deus”, essa vida nova, que agora se vai revelar num tempo novo, marcado por este acontecimento inamovível da história que é a Ressurreição de Cristo.

Sejamos dignos desta verdade, sejamos dignos desta palavra “Aleluia”, que de nenhuma maneira é uma palavra banal, que não é uma palavra das nossas línguas, mas é uma palavra recebida.

A grande palavra humana: “Aleluia!” Aquela certeza de que o alto se fez baixo. E que, tomando, abraçando o rés da terra, de novo se elevou até Deus. Aleluia!

— Cardeal D. José Tolentino Mendonça (Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor).

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As leituras do Domingo de Páscoa introduzem-nos no mistério maior da nossa fé, a Ressurreição de Jesus. Mergulhados no imenso Amor de Deus, que Seu Filho nos revela, percebemos que a partir da ressurreição de Jesus tudo passa a ser diferente, a vida ganha outro sentido. Sabemos, agora, o quanto somos preciosos para Deus, o quanto Deus ama cada um de nós, a ponto de sermos redimidos pelo Seu Único e Muito Amado Filho. Agora podemos branquear a nossa alma n’Ele, que de braços abertos nos acolhe e estreita contra o Seu peito. Deixemo-nos habitar por este Amor sem fim, para que também os que connosco convivem, ou se cruzam nas estradas da vida, possam sentir-se totalmente amados por Deus.

Na 1ª leitura (At.10,34a,37-43), escutamos Pedro, completamente entregue à missão que Jesus lhe confiou, proclamando a Boa Nova de Jesus ressuscitado com todo o desassombro e coragem, que, só quem se sente verdadeiramente amado pelo Senhor, tem, apesar de  saber os riscos que corria.

“Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do batismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando a todos os que eram oprimidos pelo Demónio, porque Deus estava com Ele. Nós somos testemunhas de tudo o que Ele fez no país dos judeus e em Jerusalém; e eles mataram-n'O, suspendendo-O na cruz. Deus ressuscitou-O ao terceiro dia e permitiu-Lhe manifestar-Se, não a todo o povo, mas às testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele, depois de ter ressuscitado dos mortos. Jesus mandou-nos pregar ao povo e testemunhar que Ele foi constituído por Deus juiz dos vivos e dos mortos. É d'Ele que todos os profetas dão o seguinte testemunho: quem acredita n’Ele recebe pelo seu nome a remissão dos pecados».”

Na 2ª leitura (Col. 3, 1-4) S.Paulo reintroduz-nos no nosso batismo, pelo qual recebemos o Espírito Santo e a garantia da ressurreição. N’Ele somos exortados a viver conforme Jesus nos ensinou, afeiçoando-nos às coisas do alto e não às da terra.

“Irmãos: Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo Se encontra, sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da terra. Porque vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, então também vós vos haveis de manifestar com Ele na glória.”

No Evangelho (Jo 20,1-9) acompanhamos, primeiro Maria Madalena e depois João e Pedro na ida ao sepulcro, onde estava depositado o corpo de Jesus. As reações são diferentes, mas, com maior ou menor dificuldade, cada um ao seu jeito, acabam por acreditar que Jesus ressuscitou. Se, para alguns deles, que tinham convivido diariamente com Jesus, foi difícil acreditar que Ele tinha ressuscitado, não admira que, ainda hoje, haja muita gente que não acredite na ressurreição de Cristo. Que, pelo nosso testemunho e oração, testemunhemos que Jesus ressuscitou, está vivo, nos habita por inteiro e que o Seu Amor por cada um de nós não tem fim.

“No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi de manhãzinha, ainda escuro, ao sepulcro e viu a pedra retirada do sepulcro. Correu então e foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo que Jesus amava e disse-lhes: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Pedro partiu com o outro discípulo e foram ambos ao sepulcro. Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo antecipou-se, correndo mais depressa do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro. Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou. Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o seguira. Entrou no sepulcro e viu as ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte. Entrou também o outro discípulo que chegara primeiro ao sepulcro: viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos.” 

Senhor, eu te louvo e bendigo por nos amares tão infinitamente. A ti o louvor a glória a honra e o poder pelos séculos sem fim.

Queridos irmãos e irmãs, Cristo ressuscitou!

Hoje proclamamos que Ele, o Senhor da nossa vida, é «a ressurreição e a vida» (Jo 11, 25) do mundo. É Páscoa, que significa «passagem», porque, em Jesus, realizou-se a passagem decisiva da humanidade, ou seja, a passagem da morte à vida, do pecado à graça, do medo à confiança, da desolação à comunhão. N’Ele, Senhor do tempo e da história, quero, com o coração repleto de alegria, dizer a todos: feliz Páscoa!

Seja ela para cada um de vós, queridos irmãos e irmãs, em particular para os doentes e os pobres, os idosos e quantos atravessam momentos de provação e dificuldade, uma passagem da tribulação à consolação. Não estamos sozinhos: Jesus, o Vivente, está connosco para sempre. Alegrem-se a Igreja e o mundo, porque hoje as nossas esperanças já não se quebram contra o muro da morte, mas o Senhor abriu-nos uma ponte para a vida. Sim, irmãos e irmãs! Na Páscoa, mudaram as sortes do mundo, e hoje (dia que coincide com a data mais provável da ressurreição de Cristo) podemos alegrar-nos de celebrar, por pura graça, o dia mais importante e belo da história.

Cristo ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente: como se proclama nas Igrejas do Oriente. O termo verdadeiramente diz-nos que a esperança não é uma ilusão; é verdade! E que, a partir da Páscoa, o caminho da humanidade assinalado pela esperança é percorrido com passo mais rápido. Assim no-lo mostram, com o seu exemplo, as primeiras testemunhas da Ressurreição. Os Evangelhos narram aquela pressa boa com que, no dia de Páscoa, «as mulheres correram a dar a notícia aos discípulos» (Mt 28, 8). E ainda que Maria de Magdala, «correndo, foi ter com Simão Pedro» (Jo 20, 2); e em seguida João e o próprio Pedro «corriam os dois juntos» (20, 4) para chegar ao lugar onde Jesus estivera sepultado. E ao entardecer daquele dia de Páscoa, depois de terem encontrado o Ressuscitado no caminho para Emaús, os dois discípulos «voltaram imediatamente para Jerusalém» (Lc 24, 33) percorrendo a toda a pressa vários quilómetros em subida e na escuridão da noite, movidos pela alegria irrefreável da Páscoa que inflamava os seus corações (cf. 24, 32). A mesma alegria pela qual Pedro, ao ver Jesus ressuscitado nas margens do lago da Galileia, não pôde demorar-se no barco com os outros, mas lançou-se logo à água nadando velozmente ao encontro d’Ele (cf. Jo 21, 7). Em suma, na Páscoa, acelera-se o passo na caminhada que se torna uma corrida, porque a humanidade vê a meta do seu percurso, o sentido do seu destino, Jesus Cristo, e é chamada a apressar-se ao encontro d’Ele, esperança do mundo.

Apressemo-nos, também nós, a crescer num caminho de confiança recíproca: confiança entre as pessoas, entre os povos e as nações. Deixemo-nos surpreender pelo anúncio feliz da Páscoa, pela luz que ilumina as trevas e obscuridades em que demasiadas vezes se encontra envolvido o mundo.

Apressemo-nos a superar os conflitos e as divisões, e a abrir os nossos corações aos mais necessitados. Apressemo-nos a percorrer sendas de paz e fraternidade. Alegremo-nos com os sinais concretos de esperança que nos chegam de tantos países, a começar daqueles que oferecem assistência e hospitalidade a quantos fogem da guerra e da pobreza.

Entretanto, ao longo do caminho, há ainda muitas pedras de tropeço, que tornam árduo e fadigoso este apressarmo-nos para o Ressuscitado. Supliquemos-Lhe: Ajudai-nos a correr ao vosso encontro! Ajudai-nos a abrir os nossos corações!

Ajudai o amado povo ucraniano no caminho para a paz, e derramai a luz pascal sobre o povo russo. Confortai os feridos e quantos perderam os seus entes queridos por causa da guerra e fazei que os prisioneiros possam voltar sãos e salvos para as suas famílias. Abri os corações de toda a Comunidade Internacional para que se esforcem por fazer cessar esta guerra e todos os conflitos que ensanguentam o mundo, a começar pela Síria, que ainda espera a paz. Sustentai quantos foram atingidos pelo violento terremoto na Turquia e na própria Síria. Rezemos por aqueles que perderam familiares e amigos e ficaram sem casa: possam receber conforto de Deus e ajuda da família das nações.

Neste dia confiamo-Vos, Senhor, a cidade de Jerusalém, primeira testemunha da vossa Ressurreição. Expresso profunda preocupação com os ataques dos últimos dias que ameaçam o desejado clima de confiança e respeito mútuo, necessário para se retomar o diálogo entre israelenses e palestinos, de modo que a paz reine na Cidade Santa e em toda a região.

Ajudai, Senhor, o Líbano, ainda à procura de estabilidade e unidade, para que supere as divisões e todos os cidadãos trabalhem, juntos, pelo bem comum do país.

Não Vos esqueçais do querido povo da Tunísia, especialmente dos jovens e daqueles que sofrem por causa dos problemas sociais e económicos, a fim de não perder a esperança e colaborar na construção dum futuro de paz e fraternidade.

Olhai para o Haiti, que há vários anos está a sofrer uma grave crise sociopolítica e humanitária, e sustentai o empenho dos atores políticos e da Comunidade Internacional na busca duma solução definitiva para os inúmeros problemas que afligem aquela população tão atribulada.

Consolidai os processos de paz e reconciliação empreendidos na Etiópia e no Sudão do Sul e fazei cessar as violências na República Democrática do Congo.

Sustentai, Senhor, as comunidades cristãs que hoje celebram a Páscoa em circunstâncias particulares, como sucede na Nicarágua e na Eritreia, e lembrai-Vos de todos aqueles a quem é impedido professar, livre e publicamente, a sua fé. Dai conforto às vítimas do terrorismo internacional, especialmente no Burkina Faso, Mali, Moçambique e Nigéria.

Ajudai o Myanmar a percorrer caminhos de paz e iluminai os corações dos responsáveis para que o martirizado povo roynga encontre justiça.

Confortai os refugiados, os deportados, os prisioneiros políticos e os migrantes, especialmente os mais vulneráveis, bem como todos aqueles que sofrem com a fome, a pobreza e os efeitos nocivos do narcotráfico, do tráfico de pessoas e de toda a forma de escravidão. Inspirai, Senhor, os responsáveis das nações, para que nenhum homem ou mulher seja discriminado e espezinhado na sua dignidade; para que, no pleno respeito dos direitos humanos e da democracia, se curem estas chagas sociais, se procure sempre e só o bem comum dos cidadãos, se garanta a segurança e as condições necessárias para o diálogo e a convivência pacífica.

Irmãos, irmãs, voltemos também nós a encontrar o gosto do caminho, aceleremos o pulsar da esperança, saboreemos a beleza do Céu! Tiremos deste Dia as energias para continuar ao encontro do Bem que não desilude. E, se «o maior pecado – como escreveu um antigo Padre – é não acreditar nas energias da Ressurreição» (Santo Isaac de Nínive, Sermões ascéticos, I, 5), hoje acreditemos! «Sim, temos a certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou» (Sequência). Acreditamos em Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: «A paz esteja convosco» (Jo 20,19.21)

Papa Francisco

( Mensagem Urbi et Orbi, 9 de abril de 2023)

Jesus está vivo! Ressuscitou! Aleluia!

 

sexta-feira, 29 de março de 2024

QUARESMA PASSO A PASSO

Semana Santa  

2024 - Ano B

Sábado da Semana Santa – dia 40 – 30/04/2024

Sábado Santo, antes da Vigília.

É o terceiro dia do Tríduo Pascal. Na Sexta-Feira Santa, é a Páscoa de Cristo crucificado, no Sábado Santo, a de Cristo no sepulcro, e, no Domingo, a de Cristo ressuscitado.
Para este dia não há nenhuma celebração sacramental prevista. A comunidade cristã só celebra a Liturgia das Horas, com uma especial recomendação de que, neste dia, o povo seja convidado para a oração de Laudes ou do ofício de Leitura (cf. IGLH 210)Todo o dia tem um tom de silêncio contemplativo do mistério de Cristo que baixou «ao lugar dos mortos», ao «descanso» do sepulcro, ao aniquilamento absoluto e ao seu misterioso encontro com os antepassados, onde pregou «aos espíritos que estavam na prisão da morte» (cf. 1Pe 3,19).

No caminho catecumenal, este dia era dedicado aos últimos atos preparatórios da grande noite batismal da Páscoa: os exorcismos, as unções, a «redditio» ou a recitação do símbolo, as renúncias, etc. Com os séculos, foi-se empobrecendo o sentido do Sábado Santo, até que o papa Pio XII, em 1951, reformou a Vigília Pascal e, em 1955, o resto da Semana Santa. Então, restituiu-se a este dia a sua característica primitiva de dia *alitúrgico, devolvendo a Vigília Pascal – que desde o século XVI se celebrava na manhã do sábado, convertendo este dia em «sábado de aleluia» – ao seu lugar verdadeiro, na noite entre o sábado e o domingo. Agora, «a Igreja permanece junto do sepulcro do Senhor, meditando a sua Paixão e morte, abstendo-se da Missa até à solene Vigília ou espera noturna da Ressurreição».

Uma característica muito antiga de Sábado Santo é o jejum pascal: já desde o século II se prolongava também neste dia o jejum de Sexta-Feira Santa, um jejum não tanto penitencial, mas cúltico, «pascal», um jejum que «se celebra». «Tenha-se como sagrado o jejum pascal: a celebrar em toda a parte na Sexta-Feira da Paixão e Morte do Senhor e a prolongar também no Sábado Santo, se for oportuno, para se chegar às alegrias do Domingo da Ressurreição com elevação e abertura de espírito» (SC 110).

José Aldazábal

(in Dicionário Elementar de Liturgia - Secretariado Nacional da Liturgia)